A contaminação pelo amor

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“O contágio se dá muito mais facilmente pelas coisas negativas do que pelas coisas positivas. O “mal” se espalha facilmente pelo medo, mas o bem apenas pela consciência”.


A frase não era exatamente assim. Foi proferida pela professora Lucia Helena Galvão e reescrevi com as minhas palavras. Mas isto não importa. O que importa é a mensagem. Aliás, esta mensagem, mesmo tendo sido proferida há meses, é super atualizada neste momento de pandemia que vivendo agora.


Pegamos o coronavírus mesmo sem ter sido contaminados pelo Covid-19. E não estou falando de que não nos prevenimos, mas sim de como um vírus, ou qualquer outra coisa neste sentido, se espalha tão facilmente, se não pelas consequências do contágio em si, mas pela contaminação do medo de ser mais uma vítima.


Cansamos de nos deparar com pessoas que sofrem oscilando entre o medo extremo e a sensação de falta das suas vidas normais que é causada, obviamente, por este mesmo medo.


Pelo medo de morrer nos privamos de viver.


Assim passamos a nos tornar mais facilmente controláveis, despedidos de nossas próprias vidas, decisões e respectivas consequências, sendo o pior disto tudo, o fato de que nem temos garantias de que seremos “salvos” desta pandemia. Não há padrões. É uma confusão total.


Quem é salvo da doença em si, não será salvo das consequências dela na sociedade, nos modelos de vida e na famigerada economia que, aparentemente, parou de circular normalmente (pelo menos é o que nos dizem).


Outro dia vi uma pessoa com uma mensagem na internet que dizia o seguinte: “Não pare de consumir na quarentena, pois há empresas que dependem destas vendas para sobreviverem”. Quem disse que paramos de consumir? Passamos a comprar máscaras, álcool, mais suprimentos alimentares, mais remédios para dormir e outros para conseguirmos ficar acordados. Talvez tenhamos parado de comprar roupas, mas infelizmente é uma consequência que faz parte do momento.


Talvez o melhor conselho poderia ser:

“Comerciantes que estão sendo afetados pela crise, planejem e busquem maneiras para vocês se reinventarem e conseguirem superar este momento”.


Em última análise ninguém quer realmente mudar. Da mesma forma que nos pedem para continuar consumindo para não quebrarmos os comerciantes, nós consumidores, estamos do lado de cá tentando maneiras para continuar gerando a mesma capacidade financeira de antes, nossas rotinas de antes, nossas distrações de antes e nossa inércia de antes.


Claro que não podemos, nem devemos ignorar aquelas pessoas que foram realmente contaminadas, que sofreram doentes e até morreram neste processo. Mas será que isto não é um sinal de que precisamos honrar estas mortes de alguma maneira? Penso que a melhor maneira de honrar estas vidas que se perderam não é tentando egoisticamente recuperar nossas vidas de volta, mas mudando e melhorando nossa forma de viver em comunidade.


O contágio desta ameaça de doença aconteceu rapidamente. Alguns países, estados e cidades conseguiram contornar o problema de maneira satisfatória enquanto outros simplesmente estão sucumbindo dia a dia.


Qual seria a diferença entre estes grupos?

De forma geral a resposta pode ser o amor.
Sim, o tão famoso, ovacionado e ignorado amor.


Na Nova Zelândia, por exemplo, a primeira ministra deu um show de amor ao seu país tentando de todas as maneiras proteger o povo que estava sob sua gestão e guiança. Via-se o amor e a compaixão em seus olhos quando ela discursava dizendo que primeiro as vidas e depois a economia.


Outro exemplo é Portugal que, ilhado dentro do continente Europeu, conseguiu inacreditáveis 29 mil casos até então, mesmo fazendo divisas com países imolados pelo problema como Espanha, por exemplo. Eu mesma estava em Portugal no início da crise e pude perceber a rápida ação de encerrar as aulas, colocar servidores de home office e, principalmente, comunicar com o povo empática e claramente.


A própria Espanha, quando se viu tomada pela crise, rapidamente montou hospitais emergenciais, mobilizou médicos entre as áreas mais necessárias e 2 meses depois já, também rapidamente, declarou controlado o problema (não encerrado, mas controlado).


O mal se espalha rapidamente pelo medo e a única solução possível é o amor.


O amor ao povo, ao próximo, àquele que não conhecemos, mas que sabemos que é gente como a gente e que faz parte do mesmo movimento único que é este lindo planeta Terra.


Sobre o amor? Este é bem mais difícil de se espalhar. Tem que querer. Tem que vencer o medo e sua ventania de mazelas que colam tão facilmente em nós.


Além de vencer o medo há que se manter uma força descomunal para mover as montanhas da preguiça, apatia, sonolência, inércia e toda a sorte de causas que tiram a nossa vontade de sermos seres humanos melhores.


Enquanto deveríamos lutar diariamente contra todas estas forças gravitacionais ao nosso próprio crescimento, estamos buscando tudo quanto pudermos de artifícios para nos ajudar a “matar o tempo” de quarentena e isolamento que foi nos caridosamente oferecido pelas circunstâncias, negando a nós mesmos esta maravilhosa oportunidade.


A obrigação de quem não foi contaminado é ainda maior, que é a obrigação de criar massa crítica de melhoria e evolução da nossa sociedade e não conseguiremos isto “passando o tempo”.


É um paradoxo real que cria um círculo vicioso do mal, pois quanto mais sufocamos nosso impulso natural ao crescimento, que deveríamos alimentar com informações e conhecimentos agregadores, buscamos "passar o tempo" com distrações que nos geram ainda mais angústias e ansiedade e que nos levam a buscar ainda mais os passatempos alienadores.


A solução é estudar, refletir, pensar e crescer.


Todas as soluções que vimos dar certo são baseadas no amor, porém não se trata do amor romântico e melodramático, mas no amor que impulsiona a ação. Este amor vem naturalmente com o crescimento e amadurecimento de pessoas, regiões, raças e países inteiros. Porém todo ato de amor conjunto foi iniciado por uma simples pessoa. É preciso que alguém comece. Sempre!


Quando o amor é experimentado individualmente traz paz, tranquilidade, alegria e compaixão. Quando é experimentado em grupo traz empatia, ajuda e crescimento. Mas quando é experimentado pelo inconsciente coletivo seus poderes são incalculáveis. É a vida perfeita.


De tempos em tempos somos apresentados a exemplos ínfimos do poder do amor e cabe a nós potencializar estas capacidades com a contaminação coletiva e consciente do universo em que estamos inseridos. A única ação que precisamos é a de começar!


Vem comigo?


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