2018 - Vivemos no tempo do culto à imagem.
Mas... Voltando um pouco pra entender...
No início do desenvolvimento humano nos constituímos pelo Ser, um ser totalmente voltado à constituição de lugar e território, mas era um tipo de ser. As pessoas se esforçavam para se destacar no meio dos grupos em que faziam parte, principalmente visando a liderança e esta liderança era conquistada por meio de esforço do interessado em prol do seu grupo/tribo/etc.
Era um modelo que personificava a lei do mais forte, afinal para se destacar como líder o antigo ser humano tinha que estar nas frentes de batalha e a sua vida era o principal prêmio para o oponente em caso de derrota e o principal símbolo para seu grupo no caso de vitória.
E assim se constituíram os primeiros influenciadores de pessoas. Eles eram os influenciadores da sobrevivência. Eles motivavam os integrantes do grupo a sobreviverem e mostravam que era possível que aquele grupo se perpetuasse.
Com o tempo e a evolução provocada, principalmente por estes primeiros influenciadores, o homem percebeu que não precisava mais de embates corporais (ao menos não diariamente, afinal fizemos muitas guerras no passado), mas continuava e desenvolvia cada vez mais, o ímpeto pela liderança. Então aquele líder que estava à frente do inimigo nas batalhas moveu-se para as tendas que com o tempo evoluíram para as casas grandes e palacetes.
Este líder continuava influenciando, mas agora como não mais era totalmente voltado para batalhas físicas, a maneira que ele tinha de se destacar era através de suas posses. Era necessário para este influenciador ter mais que os demais e, quando conseguia este acúmulo de posses, fazia com que os que tinham menos se transformassem em seus seguidores. Estes seguidores, por sua vez, ficavam perto pois se interessavam tanto em aprender com o líder como em agarrar as oportunidades de trabalho geradas por tais infindáveis posses.
Esta foi a segunda etapa: a etapa do ter. Durante um bom tempo a humanidade foi movida (e boa parte ainda é) pelo senso de ter, a necessidade de acumular coisas, propriedades e tudo mais que fosse possível. Isto é totalmente visível na sociedade em que vivemos, uma vez que foi este modo de vida que formou as bases da cultura moderna.
Mas atualmente, as coisas mudaram um pouco.
Vivemos em um tempo diferente. Tempo em que, com o avanço da tecnologia, transitamos para uma sociedade de imagem. Aconteceu uma exarcebação à exposição das pessoas. Hoje não é necessário mais SER nem TER, mas sim, PARECER ser ou ter.
Vivemos em um tempo em que somos influenciados por pessoas que simplesmente mostram que são ou têm, sem necessariamente serem ou terem de fato. Seguimos estas pessoas de forma tão adestrada que somos capazes de comprar uma peça de roupa hoje e jogá-la fora dois meses depois sem sequer ter usado, simplesmente porque não está mais na tendência. Este é um exemplo básico e fácil de entender, mas o fenômeno acontece em todas as áreas da vida humana.
Na verdade, essencialmente não há problema algum nisto, não há problema algum em seguir tendência. Mas a exposição da imagem é a praça mais democrática que existe. Todo mundo que tem um celular com acesso à internet pode construir uma imagem digital e sair influenciando pessoas.
Aí você me pergunta: E daí Valéria, qual o problema?
De fato, nenhum, pelo contrário. Nunca foi tão fácil a descoberta de talentos como é hoje. Nunca foi tão fácil descobrir novos pensadores, novos métodos de trabalhos, novas tecnologias e novas opiniões. Nunca esteve tão democrático o mundo como hoje com a internet de larga escala.
Mas é importante lembrarmos que temos acesso a tudo. Ao bom e ao ruim, ao preparado e ao inconsequente e por aí adiante. Nunca foi tão necessário o bom senso para definir no que e em quem se espelhar e em escolher ao que dar atenção.
É fundamental que façamos um esforço na definição de quem destinamos nossa atenção e nosso tempo. Aliás nosso tempo fica cada vez mais escasso com tanta informação de baixa qualidade à nossa disposição, saltando aos nossos olhos e ouvidos, de maneira que temos que gastar parte deste precioso tempo simplesmente selecionando ao que dar atenção de fato.
As pessoas, em geral, nunca precisaram tanto de atenção como atualmente. É uma atenção simplesmente pela atenção. As vezes parecemos artistas de circo lutando para receber aplausos de uma plateia barulhenta entretida com doces e guloseimas, e, quanto mais barulho a plateia faz, mais o artista precisa se esforçar para chamar a atenção.
Todo este contexto torna a vida muito cansativa.
Gastamos nosso tempo para perceber àquelas pessoas que ensinam o que não sabem fazer e pregam o que não sabem viver.
Há mais uma coisa alarmante. Quanto mais informação dispomos a nosso favor, menos somos impulsionados à pensar. É o pensar que faz nosso desenvolvimento. É a crítica, a avaliação, a elucubração e a decisão. Este processo, que é quase um PDCA da vida real, é muito necessário para o desenvolvimento humano.
Estamos sendo emburrecidos a cada dia e não percebemos isto.
Portanto, meu alerta carinhoso à todas as pessoas que chegarem ao final deste texto, que sei que serão poucas, é: não se deixem emburrecer, não se deixem influenciar facilmente, não tomem nada como verdade antes de entender sobre e a mais importante, não confiem em todas as fontes de informação.
Nosso mais precioso dom é a capacidade de raciocínio conjuntural. Isto significa que podemos acessar, sentir, analisar e concluir. Não deixem que este novo modelo de vida tire isto de você.
Com amor,
Valéria