Levamos uma vida moderna e nela somos ensinados que devemos nos preocupar com nosso próprio problema. Afinal de contas já temos demandas demais para ocupar nossa mente preciosa, não é? Vamos vivendo e seguindo uma pegada na qual deixamos de enxergar as demandas e necessidades dos outros, afinal “o outro não é problema meu”.
Os nossos avós viviam de outra maneira. Todos ajudavam a todos e a vida era mais tranquila e até talvez mais leve e doce de se viver, apesar das dificuldades que havia antigamente e que hoje não existem mais. Ainda hoje podemos ouvir histórias dos mais antigos que vivem entre nós sobre o quanto a vida antigamente era menos competitiva.
As coisas mudaram muito rápido nos últimos anos e aprendemos a competir pelo nosso lugar ao sol. Fazemos isto quase convencidos de que o sol pode ser limitado e não brilhar para todo mundo. Achamos que para termos algo de bom é preciso que este “bom” seja melhor do que o “bom” do outro, afinal só vou saber se meu bom é bom quando comparo com o bom do outro.
Mudança Triste!
Estamos tão encarnados desta cultura, que acabamos por levar este modo de vida para todos os lugares onde estamos, não limitando este jeito de agir apenas nas situações de trabalho.
Ficamos anestesiados. A dor do outro não nos afeta mais. Quando passamos pelo sinal e tem alguém pedindo com fome, nós fechamos o vidro, começamos a acelerar bem devagar para que ele não consiga alcançar o vidro do nosso carro.
Não temos medo apenas da fome,
TEMOS MEDO DE QUEM TEM FOME.
Julgamos as pessoas que tem necessidades. Dizemos para nós mesmos: “Ah ele está drogado”, “Está aí porque não gosta de trabalhar”, “Ele ganha mais pedindo do que eu trabalhando”. Então vamos usando estes julgamentos para cada vez nos afastarmos mais de sentir a situação e de gerar empatia pelos que precisam de qualquer coisa.
Nos mantemos na competição.
Sem saber, lá dentro de nós, sentimos até uma certa vantagem por ter pessoas nestas situações a fim de reduzir a competição nos ambientes em que vivemos e competimos, não só por sustento, mas por aquele MAIS que ninguém sabe ao certo o que é.
Entretanto estas situações citadas até agora são as mais claras de se enxergar. Certamente todos nós já passamos por alguém em clara situação de necessidade e, ora ajudamos, ora não nos sentimos aptos a isto.
Quero trazer à mesa outro tipo de necessidade. Aquele tipo que nem sempre se parece com uma necessidade real.
A necessidade de uma mãe que acabou de arrumar toda a casa, está cansada relaxando por alguns minutos no sofá e é chamada por um filho para fazer algo que pode esperar, por simplesmente falta de empatia.
A necessidade do colega de trabalho que está lutando para aprender a manejar a tela do novo sistema, claramente com o rosto suado e com medo de o chefe chamá-lo em sua sala, enquanto a gente finge que não está vendo apenas para não ter que levantar da cadeira.
A necessidade daquela pessoa que tem uma limitação física que precisa levantar para pegar o café, enquanto a gente poderia oferecer uma cortesia quando buscamos o nosso.
Não estamos somente anestesiados. Parece que estamos em coma.
Fingimos que não vemos o sofrimento do outro. Alguns até são capazes de sentir um incomodo consciencial na fração de segundo em que exerce esta cegueira, mas a vida moderna nos ajuda a esquecer bem rápido por meio do excesso de informações que chegam a nós a todo momento.
Realmente parece que estamos em coma prestes a morrer como seres humanos e ressuscitarmos como máquinas processadoras de algoritmos previamente definíveis por alguns poucos programadores que controlam o sistema.
Precisamos acordar.
A hora de acordar é agora e sair deste coma se torna cada vez mais urgente.
Precisamos exercitar o amor ao próximo, o não julgamento e o ajudar por simplesmente ajudar.
Ajudar entorpece, mas entorpece de alegria. O corpo está prontíssimo para nos dar descargas infinitas de endorfina quando sentimos que efetivamente somos uteis para alguém.
E ser útil, meu irmão, é a coisa mais fácil do mundo.
Nosso problema é que estamos tão ocupados, olhando para baixo, adestrados pelos nossos próprios cachorrinhos eletrônicos, que não temos tempo de exercer o que verdadeiramente fomos feitos para ser....