A distração é inimiga da intuição

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Porque procuramos nos distrair tanto?


Um certo dia, fui fazer o jantar para meu filho. Estava quente, coloquei à mesa para ele comer e pedi que ele desligasse a TV para que pudesse comer tranquilamente. Ele, muito atencioso, desligou, sentou à mesa e me pediu o telefone emprestado para que pudesse assistir o Netflix quanto comia.


Eu rapidamente neguei, estava atenta naquele momento e sou grata por isto. Pude dar para ele um pequeno ensinamento (sempre busco o meu melhor neste sentido e por isto busco tanto). Eu pedi para que ele fizesse sua refeição em silêncio, aproveitando a comida, com a intenção de que o corpo aproveitasse todos os nutrientes, que não fizesse mal pra ele e que sentisse o sabor com calma.

Ele seguiu minha orientação, mas não pude deixar de pensar como isto acontece o tempo todo na nossa vida.


Sempre estamos buscando distrações e com isto nos esquecendo de aplicar uma intenção pura e verdadeira nas coisas que fazemos.


Independente do motivo. Seja por estarmos fazendo algo que não queríamos fazer, ou algo que não seja tão agradável de fazer, ou mesmo coisas que gostamos. Já notou que, em todas as atividades que fazemos, buscamos algo para nos distrair enquanto a executamos?


Há muito tempo que venho buscando desenvolver minha espiritualidade e autoconhecimento e, a coisa mais perceptível para mim, e o maior indicador de que isto está de fato ocorrendo, é que quanto mais nos desenvolvemos e conhecemos a nós mesmos, mais ficamos à vontade no vazio.


O vazio é um lugar de extremo significado. É nele que está contido tudo que há. Repare, por exemplo, que uma sala é uma sala, independente do que há nela. Se você trocar toda a mobília ela ainda continuará sendo a sala, se você vender a metade do que contém nela ainda continuará sendo sala e até se você tirar tudo de dentro dela, você ainda saberá que ali é sua sala.


A informação da sala está sempre ali, naquele vazio que você decora, enfeita, muda, pinta, suja, faz bagunça, comemora, ri, chora. Enfim, sua sala é sua sala, independente do que há nela.


Assim é o mundo e tudo que há.
Está tudo dentro de um imenso vazio.
O vazio é o que contém tudo.


Mas, se no vazio é que contém tudo, porque a maioria de nós se incomoda tanto com ele? Porque precisamos sempre de ter mais coisas para nos preencher e sequer somos capazes de fazer uma refeição sem olhar uma tela de celular ou assistir uma TV?


A resposta é que há duas forças opostas convivendo dentro de nós e tirando nossa paz. Uma delas é o nosso espírito que busca sempre este vazio, ou seja, aquela parte de nós que sempre busca a paz, que pensa em meditar, que se incomoda com muito barulho, que prefere refletir, que quer buscar Deus ou qualquer tipo de espiritualidade. Esta porção de nós está aqui para nos ajudar a evoluir e quer apenas voltar para casa e se encontrar com sua fonte.


A outra parte é o que nos faz ser quem somos nesta vida. O famoso ego que, aliás, tem tido muita mídia nos últimos tempos. Os coachings, psicólogos, estudiosos da mente e muitos outros pregam sempre que temos que dominar, controlar ou até vencer o ego. Mas porque isto?


O ego nos faz reconhecer quem somos. Ele convive em oposição ao espírito. É ele que se incomoda com a solidão, com o silencio, com a falta de companhia, com a falta de atividade. Também é ele que gera nossa ansiedade quando briga diretamente com a necessidade do espírito de evoluir.


Certamente ele é a nossa parte mais forte e a briga só acaba quando ele se rende por conta própria ao espirito e passa a caminhar de mãos dadas com ele.


A partir deste momento é como se parássemos de empurrar o carro e começássemos a dirigi-lo. O esforço todo acaba, assim como o sofrimento e a ansiedade, então as coisas começam a acontecer do ponto de vista humano e espiritual.


É quando de fato acontece o “pentecostes” em nossa vida. Isto significa que o verdadeiro Espírito Santo ascende dentro de nós e passamos a viver guiados por ele. Ao contrário do que muita gente pensa não passamos a viver sob o Espírito Santo quando dizemos sim e mergulhamos na água, mas quando, minuto após minuto, nos decidimos a isto e voltamos a fazer o mesmo o tempo inteiro. É uma luta interminável. Do primeiro ao último segundo de nossas vidas desde quando passamos aceita-lo.


A tendência do ego, quando ele não se decide completamente, quando não se rende, é de resistir e muitas vezes de tentar retomar o controle. Quando não se está completamente consciente da decisão tomada e luta-se para manter a consciência diária nas pequenas ações e atitudes, ele tende a retomar o controle.

Muitas vezes a retomada do ego ocorre em um ambiente disfarçado de iluminação, ou seja, ele faz a pessoa pensar que está tendo êxito em sua caminhada espiritual e retoma o controle baseado neste desejo. Aliás, vale à pena registrar que o crescimento espiritual também parte de um desejo.


Observamos isto quando o “novo iluminado” psasa a ter muito orgulho de sua condição, a contar para todos, a pregar e a encarar todos os contrários à sua verdade como errados. Este comportamento é típico do egóico que se sente importante por ser iluminado, importante por estar “na verdade”.


Este tema é infinito e daria livros e mais livros (como há). Mas para quem está caminhando na trilha estreita do desenvolvimento espiritual, a única coisa que posso dizer, que é o que tento seguir em minha vida é:


NÃO TENHA MEDO DO VAZIO
NÃO TENHA MEDO DO SILÊNCIO
NÃO TENHA MEDO DA SOLIDÃO


Apenas quando começamos a encarar estes momentos é que damos a chance de o verdadeiro espírito emergir.


É no vazio, no silencio e na solidão que lidamos com nossos fantasmas, nossos medos, nossa vontade de aparecer, nossa vontade de ser alguma coisa. Só quando tratamos isto em nós e quando nos vemos sem o desejo do ego é que o verdadeiro espírito nos enche e passa a guiar nossas vidas.


Desejo a você todo o silencio e vazio do mundo, pois é no vazio que estará tudo que você precisa para ser feliz. É lá que tem tudo.

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