Outro dia estava conversando com uma amiga sobre o fenômeno que acontece com pessoas que reconhecemos como iluminadas e que com o tempo caem na tentação de viver uma vida de vaidade.
Estas pessoas, algumas delas com obras reconhecidas, depois de um tempo em que ganham muito reconhecimento, começam a valorizar aparências, status e bajulações. Mas porque isto acontece?
Sobreviver à vaidade, ao ego, é um dos maiores desafios de manter-se na luz. Somos o tempo inteiro tentados para caminhar rumo aos prazeres e reconhecimentos imediatos deste mundo e se perder acontece com uma facilidade tremenda.

Manter-se fora da vaidade é relativamente fácil no início de qualquer caminhada, afinal não há reconhecimento no início, tudo é muito difícil, sacrificante e são poucas vozes no dia a dia da pessoa começando. A voz mais ativa é a dela mesma se auto impulsionando rumo à sua missão de vida. Nesta fase ela só consegue ouvir a voz do coração, então ela segue em frente.
Mais à frente, quando ela se vê reconhecida, quando sua mensagem se encaixa e todos começam a notar a relevância é natural que as pessoas queiram agradecer, pois somos gratos por natureza, então queremos agradar, presentear, proporcionar momentos para o mensageiro. É aí que vem o teste verdadeiro, pois requer um esforço muito grande para que não seja esquecida a natureza da mensagem, requer um esforço descomunal para que o mensageiro não se esqueça de sua verdadeira essência, que é a mensagem e seu emissor.
Para quem acompanha e estuda a Bíblia ou mesmo a história de Jesus, é fácil observar que o tempo inteiro ele foi tentado a sucumbir à vaidade. Muitos nomes importantes daquela época queriam ser amigos dele, O convidavam para suas casas para jantar e muitas outras coisas mais.
Há um episódio muito conhecido (resumindo) que quando um homem rico que seguia todas as leis de Deus (premissa da história), perguntou à Jesus o que ele ainda precisava fazer para alcançar o reino dos céus e Jesus disse-lhe: Venda tudo que tens, distribua aos pobres e siga-me. Foi quando o jovem se deu conta de que não conseguiria executar àquela tarefa, pois ele tinha apego e gostava muito da vida que ele levava.
Na minha humilde opinião todos temos um caminho a percorrer até a iluminação, até à fusão com o Todo, até a união com Deus, até ter direito ao céu... Chame como quiser... E esta caminhada não acontece em apenas uma vida. O fato de termos conhecimento apenas desta vida não significa que não podemos ter tido ou ter outras à frente. Podemos acreditar que não tivemos, mas não podemos provar. Isto é um assunto muito pessoal. Mas levanto isto como premissa, entendo que vamos sendo “promovidos” a melhores condições de vida em função da nossa caminhada e dos “resultados que obtivemos”. Entendo como resultado o fato de a pessoa vir aqui, viver uma vida integra, ajudar, trabalhar, agregar conhecimentos e entender que só há um caminho, que é o de encontro ao Todo.
Em estágios avançados desta caminhada, chegamos aqui cheios de percepção, cheios de conhecimentos agregados, cheios de talentos, cheios de entendimento e com nossa Centelha Divina já falando mais alto. Isto significa que estamos bem avançados na estrada da evolução e que quando retornamos para casa estamos com um estoque extra de graça. Aí recebemos a missão de voltar para ajudar na construção desta consciência, ajudar na construção do reino, ajudar na disseminação do conhecimento, enfim, chegamos aqui cheios de talento para ajudar.
Mas toda esta miríade de condições positivas, ou seja, todo este arsenal de competências e capacidades, aliado ao nascimento em condições favoráveis (não necessariamente condições financeiras, mas em condições familiares favoráveis ao desabrochar) a pessoa nasce revestida de ego.
O ego é uma das grandes manifestações da justiça divina em nossa vida. Se não fosse ele todos teriam o conhecimento sem precisar passar pelas etapas de amadurecimento e tomada de decisão. Todo mundo saberia que o Todo existe e automaticamente se renderia aos seus pés. Ele não quer isto. Ele quer dar amor genuíno e este amor tem que ser aceito por nós. Ele não nos impõe. A existência do Ego é a maneira que o Todo tem de não nos impor seu amor. O Ego reveste nosso inconsciente mais profundo, pois nele sabemos de onde viemos.
Ocorre que este Ego luta incansavelmente para sobreviver. Ele se parece com David quando foi enfrentar Golias, cheio de astúcia, vontade de permanecer vivo e se tornar rei. Então ele luta até o fim e usa dos meios mais inteligentes e fascinantes possíveis para conseguir a manutenção de sua existência. O Ego pensa que se ele deixar a missão falar mais alto, ou seja, deixar Deus falar através da pessoa ele vai deixar de existir, mas é exatamente o contrário.
Em outro texto refletiremos mais sobre ego. Mas de maneira geral podemos definir o ego como aquilo que nos faz reconhecer quem somos: nome, endereço, idade, pessoas relacionadas, interpretações de nossas memórias, etc. Pessoas que vem com Centelhas fortes também vem com Egos fortes para encobrí-las. Esta é a luta diária dos mensageiros e dos iluminados. Estes são os Golias contra os Davids e os Golias quase sempre perdem.