Reflexões sobre idolatria

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Reflexões sobre idolatria

De acordo com a perspectiva humano-religiosa de como surgiu o mundo em si, todos, ou pelo menos a maioria, concordam que houve um criador. Seja lá qual o nome que seja dado a ele: Jeová, Shiva, Brahma, Inteligência Divina, Deus Sol, só Deus ou qualquer outro que se queira dar e, por certo, há uma infinidade de nomes que sequer poderemos catalogar um dia.

 

Pois bem, considerando que este Deus criou todas as coisas, milhões de galáxias, inclusive enormemente maiores que a nossa, criou nosso sistema solar até chegar em nosso planeta com o Adão e a partir daí desenrolou-se a problemática toda que a gente conhece no mundo.

 

Em várias passagens bíblicas, principalmente do antigo testamento, há episódios que se conta de um povo que fez estátuas para adoração e um Deus que ficou bem bravo (ou puto mesmo) por perceber que sua criação criava e adorava outros Deuses que não ele.

 

Agora vem a primeira provocação deste texto: Você acha mesmo que alguém que teve o trabalho de criar isto tudo, e muito mais que não conseguimos observar com nossos modernos aparelhos astronômicos, que criou o homem que é uma “finestésima” parte disto tudo, ficaria bravo por alguém criar uma estatuazinha para ficar ali admirando e adorando? Será que este Deus tão poderoso e dono de todos os sentimentos que, na teoria deveria ser amor em toda a sua essência, teria espaço para ficar bravo? Chateado? Ou com ciúme da estátua estar recebendo amor do precioso e insignificante homem? Será que estamos falando mesmo de Deus?

 

Agora vamos aprofundar as perguntas: Se este Deus criou tudo, e tudo faz parte da mesma matéria prima que foi emanada lá atrás, há quase 15 bilhões de anos no big bang, será que há diferença entre nós e todas as outras coisas criadas? Nós e a terra, nós e a planta, nós e o animal, nós e a galáxia? Ainda levando em consideração que toda a matéria que está aqui sobre esta terra maravilhosa é gerada a partir da combinação de elementos, que já sabemos que no fundo no fundo tudo é energia proveniente de uma única onda emanada lá no big beng, eu te faço mais uma pergunta: Será que tem diferença entre nós e a estátua que eles estavam adorando? Não somos todos feitos do mesmo princípio?

 

Descendo mais um pouco, e sei que está ficando fundo, te pergunto: nós e a estátua não somos uma coisa só?

 

Agora juntando as partes deste quebra cabeça divinamente astronômico temos Deus que criou tudo, seja através do big bang ou veio aqui e fez todo com suas próprias mãos, criou galáxias, sistemas solares, estrelas, planetas, animais, plantas e o homem. Depois o homem criou sistemas, computadores, casas, prédios, mais um monte de coisa, inclusive a estátua. Tudo leva a crer que somos uma coisa só certo?

 

Eu acredito plenamente que todos somos um e muito mais do que isto, tudo é um. Tudo que há é uma coisa só.

 

Tudo é e tudo tem consciência. Seja uma consciência aparentemente desenvolvida como a nossa, a consciência de uma jaqueira que faz com que ela produza jaca e não morango, a consciência do animal que mesmo em uma savana com várias espécies ele vai procurar e procriar com a sua, que cuida dos seus filhotes por instinto, até a consciência de uma mesa que tem o formato de mesa e se mantém no formato de mesa. Pelo menos eu nunca vi alguém produzir uma mesa e quando ela terminar estar parecendo uma panela.

 

Tudo tem consciência. É esta consciência que determina o formato e a função que aquela criação vai exercer no mundo. O que nos difere das demais espécies e coisas, considerando que somos criados da mesma matéria, é uma camada que reveste a consciência que existe dentro de nós, à qual chamamos de Ego.

 

É o Ego que faz com que a Maria saiba que seu nome é Maria que ela é filha da Ana, nasceu em 1970, que gosta de comer arroz com feijão, que não gosta de cereja, mas ama morangos, que credita em Deus, que vai na igreja e assim por diante... é o Ego que faz com que tenhamos identidade, mas ele encobre a consciência divina que dividimos com todo resto da criação e que carregamos desde sempre.

 

Observe que quando um animal tem seu filhote, de acordo com o instinto daquele animal, ele pári, alimenta e cuida até o filhote ter condições de seguir seu caminho. Quando ele libera o filhote para seguir seu caminho é como se ele se desligasse daquele filhote e do amor de mãe pra filho. Aquele filhote passa a ser mais um de sua espécie no seu bando. Isto significa que o animal também tem Ego quando ele tem o filhote e reconhece que é seu e que tem que cuidar até determinado momento, mas seu ego não é tão grande como o nosso, ao ponto de, muitas vezes, não conseguimos deixar um filho seguir caminho na sua vida e querermos cuidar pra sempre.

 

Este breve histórico generalista sobre o ego dos animais nos revela que nosso ego é bem mais desenvolvido do que o de qualquer outra espécie ou ser da criação. Certo? Sim isto mesmo. Nosso ego é maior e é por isto que nos achamos superiores ao restante do que foi criado por Deus, mesmo que, intelectualmente, saibamos que não somos.

 

Seguindo esta maneira de pensar onde entra a idolatria?

 

Alguém já viu algum animal fazer uma estátua ou ir à igreja? Eu pelo menos nunca... Isto significa que o animal não sabe que isto existe ou que simplesmente ele não precisa disto? Eu voto na segunda opção.

 

O fato de o animal ou qualquer outra criação não ter um ego tão forte quanto o nosso faz com que ele não tenha nada encobrindo o subconsciente, consiga acessar diretamente a consciência divida e que tenha providas todas as suas necessidades de sobrevivência. Os problemas que eles possam vir a ter em sua existência é por pura ação externa do homem e não por sua própria ação ou desejo.

 

O desejo vem do ego, embora isto explique a evolução (se não tivéssemos desejo estávamos vivendo como primatas até hoje) é este mesmo desejo que nos faz cometer as maiores atrocidades que podemos imaginar.

 

Neste momento quando voltamos para a estátua, percebemos que ela não é o problema. Ela apenas reflete nossa busca incessante pelo que não conseguimos acessar, ou seja, por algo que nos auto afirme como adoradores, que nos auto afirme como criação. Fazemos isto porque nosso ego nos afastou tanto do nosso criador que precisamos simular sua presença em nossa vista.

 

Afinal de contas só precisamos buscar aquilo que não temos, não é mesmo? Se precisamos buscar a Deus por meio de estátuas, de talismãs, de cerimônias, de gurus, de pastores ou mesmo de igrejas, significa que não estamos encontrando o criador em nós.

 

Só buscamos àquilo que não temos. Só procuramos àquilo que perdemos um dia.

 

Se, assim como os animais e o resto da criação, nós não precisássemos buscar pelo criador, significaria que Ele está sempre junto de nós.

 

O fato é que Ele está e sempre esteve aqui. Justamente aqui dentro. Só O encontramos quando paramos de procurar e olhamos para dentro de nós mesmos. Toda a criação, todo o universo, toda a consciência, toda a fonte da criação está exatamente dentro de nós. Ele guardou sua Centelha Divina em nós e em toda a criação.

 

Esta Centelha está aqui, quietinha, se não a alimentarmos ela não urge em arder em chamas, ela não está presa ao tempo, ela vem e vai conosco em todas as experiências de vida, ela espera calmamente que chamemos por ela, mas mesmo que não a provoquemos ela nunca se apaga. É uma Centelha e tem o propósito de manter guardada a chama de toda a verdade e de toda a fonte da vida.

 

Tem uma história bonita que conta que, que quando o criador estava desenhando o homem, com tantas qualidades e tanta inteligência, ele ficou pensando em que lugar poderia esconder a verdade, pois se o homem a encontrasse seu futuro seria incalculável, logo, a verdade teria que ser alto difícil de encontrar, teria que requerer algum esforço por parte da criação. Então o Criador, em conversa com seus ajudantes, teve uma ideia genial e guardou a verdade no único lugar que seria difícil para o homem encontrar. Aquele lugar que seria o último a ser vasculhado e que o homem só procuraria depois de procurar por todo o mundo. Este lugar era dentro dele mesmo.

 

Portanto, chegamos à conclusão que o único lugar a que precisamos procurar é dentro de nós mesmos. Não é na estátua, não é no talismã, não é na moeda, no símbolo, na natureza, no pastor ou na igreja. Tudo isto é regra e regra só escraviza. O único lugar, mas por infelicidade é o último lugar que procuramos, é dentro.

 

Isto nos leva a crer que idolatria é tudo que fazemos para buscar a Deus fora de nós mesmos.

 

 

 

 

 

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