A vida, os filmes e a vida!

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Estou no meu segundo café. Adoro café expresso - aprendi a gostar, na verdade. Este foi um dos bons costumes que aprendi com meu segundo marido, além do vinho, diga-se de passagem!.


Estou neste momento sentada na minha varanda escrevendo. Escrever é minha antiga nova paixão. Estou extremamente realizada com a possibilidade de me tornar uma escritora.


Ainda não está claro sobre qual linha vou seguir, pois já pensei em escrever livros técnicos na área em que adquiri mais conhecimento ou sobre as coisas apaixonantes que tenho estudado nos últimos anos: espiritualidade, autoconhecimento e liberdade. Mas, na verdade o que tem me encantado é escrever sobre a vida de uma maneira geral, sobre como nos comportamos e como refletimos no decorrer das situações corriqueiras.


Definitivamente amo escrever sobre coisas comuns. Este tema envolve o titulo do meu primeiro livro. Eu realmente acredito que o extraordinário mora no comum e que o verdadeiro comum está tão raro que ele é de fato extraordinário quando é encontrado.


Vamoms exercitar a visão romântica da coisa, só para exemplificar:


"Sentada na varanda, em um sofá grande, retrátil, confortável, com o notebook no colo sobre uma almofada felpuda, feliz, escrevendo de forma famigerada e parando para tomar goles de café que vão esfriando bem rápido à medida que as pausas vão ficando mais difíceis de acontecer. A varanda é clara, ventilada, bonita e de certa forma até chique quando eu a olho da perspectiva do mundo que eu vivia quando criança. A escrita acontece tão rápido que, em alguns momentos, os dedos não conseguem acompanhar a velocidade do pensamento. E eles realmente são rápidos em seu papel de digitar."


Sentei-me aqui após assistir um episódio da série The Crown, no qual cochilei prazerosamente por vários momentos, porém, ainda assim a mensagem ficou clara e fácil de entender. O dito episódio estava focado na situação da irmã da rainha, a princesa Margareth e sua glamorosa vida. Ela apareceu na primeira cena fazendo uma foto oficial para comemorar seu aniversário.


O episódio mostrava vários momentos em que ela estava se arrumando, cheia de criadas, mergulhada no conforto e benefícios de viver uma vida monárquica. Parecia realmente uma vida fácil de ser vivida, assim como olhamos os ricos de nosso tempo e (muitos) “momentaneamente” invejamos a vida que vemos eles viverem, ou pelo menos a parte visível delas.


Margareth estava chateada porque queria uma foto diferente, mas sua mãe insistiu em tirar com o mesmo fotógrafo de sempre, pois ele saberia mostrar esperança glamorosa que uma figura como a linda princesa mostrava de maneira irrefutável.


Ela sorriu quando lhe foi solicitado e as fotos ficaram verdadeiramente lindas. Porém nos intervalos do ensaio via-se claramente quão enfadada e entristecida ela estava com a vida que levava. Ela tinha anseios, desejos e muitas curiosidades que a vida não lhe dava oportunidade de saciar, como por exemplo, experimentar como é um namoro normal, como é caminhar pela rua despretensiosamente, como é dar gargalhada sem pensar em gafe ou no momento seguinte.


Sua vida era extremamente calculada, gerenciada e controlada. Ela era verdadeiramente infeliz e mesmo assim era considerada uma fonte de inspiração para outras meninas que tinham a vida comum, que podiam casar com os meninos que gostavam, que podiam sonhar em ser qualquer coisa que quisessem e, mais importante, que poderiam se frustrar e recomeçar sem se transformar em escândalos de capas de revistas famosas.


É impossível para mim não refletir em cada situação que eu vivo. É quase um vício. Este anseio por pensar me torna até uma pessoa chata as vezes, principalmente para aqueles que convivem comigo no dia a dia, eu sei, mas é tão gritante dentro de mim que não consigo não fazer, simplesmente. Então, para evitar este comportamento me satisfaço escrevendo.
Nesta situação é fácil refletir (claro assistindo o filme com este olhar) sobre a extraordinária riqueza da vida comum. esta vida comum da qual vários de nós tentamos escapar o tempo inteiro, mas que nos dá a combustão necessária para ir além.


A grande riqueza da vida comum é que ela nos dá impulso para sonhar. Quanto menos temos mais facilmente conseguimos sonhar em ir além. Só para exemplificar, já notaram que vários artistas, atletas e empresários quando ficam muito bem-sucedidos, ricos e famosos sofrem uma crise de personalidade? É fácil perceber isto, pois vários deles se perdem no caminho, fazem besteiras, terminam casamentos, viajam em coisas loucas, etc...


Isto acontece porque manter a capacidade de sonhar é mais difícil quando se tem muito, quanto mais se tem menos se sonha, menos doce ficam os sonhos e menos surpreendente fica a vida.


No começo deste texto eu fiz questão de dizer que eu estava no meu segundo café expresso, sentada em um sofá confortável em uma varanda grande sentindo a brisa de uma tarde linda de sábado. Mas a verdade é que antes deste pequeno momento eu estava fazendo aquelas coisas que ninguém mostra ou diz que faz, separando roupas sujas no cesto que a empregada deixou para trás, colocando na máquina e me sujando toda de água sanitária e sabão. Eu estava fazendo isto enquanto mantinha a cabeça cheia de reflexões e ansiava o momento em que poderia sentar para escrevê-las.


E agora aqui, relaxando e celebrando a extraordinária vida comum, vejo o quão fantástica ela é com seus altos e baixos, com suas decepções, com suas dificuldades, mas principalmente com seus infindáveis sonhos a serem realizados.


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