O poder das mentiras inofensivas.
De certa forma todos sabemos que, para termos uma vida feliz e de sucesso, é preciso tomar cuidado com a nossa consciência.
Apesar de, atualmente, haver informação sobrando neste sentido, porque permanecemos distantes de alcançar esta meta? Porque nos pegamos ainda falando coisas que não agregam, agindo de maneira impensada e tratando as pessoas de maneiras que não, necessariamente, gostaríamos de ser tratados?
Da mesma forma que parece fácil desenvolver a consciência, há de certa forma, um traidor dentro de nós que nos faz pensar que estamos fazendo a coisa certa, quando, na verdade, nem sempre estamos.
Um exemplo simples disto é o fato de contarmos pequenas e, aparentemente, inofensivas mentirinhas que muitas vezes pensamos estar fazendo até pelo bem, ou seja, para poupar ou ajudar outras pessoas, principalmente aquelas que mais amamos.
Entretanto, o que parece inofensivo pode ter um grande poder de destruição. Observe:
A avó de seu filho está na sua casa e precisa ir embora, mas seu filho, que é muito apegado a ela, chora muito, a agarra pela perna, diz que vai sofrer, faz uma manha daquela, enquanto você, sentindo um misto de pena do sofrimento dele, como irritação por ele estar fazendo manha, rapidamente imagina que se disser que a avó não vai embora, mas que vai apenas na padaria e volta, pode ser uma saída.
Como de fato é. Momentaneamente seu filho se acalma e parece até esquecer da avó. Voce se sente o pai mais conciliador do mundo enquanto seu filho agora já demonstra mais tranquilidade.
Ocorre que, apesar da criança, muitas vezes nem mesmo voltar a perguntar pela avó, até porque ele começou a se distrair com outra coisa, ela não esquece o ocorrido e, lá dentro, são plantadas várias sementinhas:
Vovó não voltou. Será que ele está bem?
Vovó não voltou. Será que ela não gosta mais de mim?
Porque meu pai disse que ela voltaria se ela não voltou?
Será que meu pai não gosta de mim?
Porque não posso confiar nas coisas que meu pai diz?
Além destas perguntas há muitos pensamentos, conscientes ou não, inclusive a maioria não consciente, que seu filho pode ter a respeito de uma situação como esta. Mas o principal deles é o sentimento que fica. O de não poder confiar, o de não transparência e, sem perceber, ele começa a ajustar suas atitudes já confiando que isto poderá ocorrer novamente.
Além disto, o inconsciente de uma pessoa, não sabe identificar uma pequena e inofensiva mentirinha de uma mentira grande. Não existe esta avaliação de tamanho e intensidade. Mentira é mentira.
A recorrência disto vai fazendo com que as pessoas mudem o comportamento para se adequarem a este contexto, que é o contexto da não confiança, da insegurança, da falsidade...
Sem confiança não se constrói relação alguma, família alguma, relacionamento algum. Cidade alguma. País algum. Mundo algum. E é por causa de tantos meios, não justificados pelos fins, que estamos em um mundo caótico desta maneira.
OS FINS NÃO JUSTIFICAM OS MEIOS
Tudo que emitimos faz parte de nossa consciência, portanto mesmo quando contamos pequenas inverdades estamos montando nossa teia de aranha.
É impossível fragmentar a consciência. Quando a pessoa decide dizer alguma inverdade, mesmo com um objetivo maior, naquele momento ela está provocando uma mancha no tecido da sua consciência. Não há como deletar tecido manchado.
Precisamos assumir nossa condição humana e saber que muitas vezes vamos cometer erros como este. Isto é fato. Não há imaculados aqui, mas quando nos damos conta de nossa condição imperfeita e aplicamos toda nossa capacidade de esforço para mudar, já demos o primeiro passo.
Assim vamos cada vez manchando menos a colcha da nossa consciência e podemos, ao invés de causar novas manchas, tratar de limpar as velhas.
Podemos fazer uso do alvejante do perdão, do molho da reflexão, e do varal do autoconhecimento. Fazemos este processo várias e várias vezes até sairmos dele com a consciência alva como aquele lindo lençol de linho egípcio que sempre sonhamos em ter.